Monday 11 January 2010

Viagem ao Paraíso

Escrevo para contar como foi o meu último fim-de-semana, pois foi deveras diferente dos restantes, nos quais me tenho sentido um pouco solitária e isolada, apesar de ter sempre os meus amigos comigo. É algo que vou ter que começar a dar a volta, a falar com mais gente e a sair mais.

Sexta-feira à noite fomos ver finalmente o filme Avatar, em 3D. Quanto ao facto de ser em 3D, é uma experiência diferente e digamos que de modos, única, contudo não me adaptei bem a esta tecnologia pois provocou-me dores de cabeça e impossibilidade de ler algumas legendas ao longo do filme, o que para mim é irrelevante, pode ser falta de hábito. (Pareço uma velha a falar "Essas modernices fazem-me confusão à cabeça!") Voltando ao assunto do filme em si, agradou-me imenso a história e os efeitos visuais. Pandora é um mundo mágico, quase como uma viagem ao paraíso, como acredito que outrora foi o nosso próprio mundo. Gostei imenso do povo Na'vi, acho que são esteticamente muito belos e, tal como em tribos que já houve na terra, têm valores nobres e um verdadeiro respeito pela Natureza. Fez-me lembrar bastante os valores e crenças do povo celta na idade do bronze, onde haviam várias tribos, onde as árvores eram elementos sagrados da natureza, onde eram pedidas desculpas à mãe-natureza por ser tirada a viva de um animal para alimentação, onde a guerra não era feita por capricho mas sim por sobrevivência, onde havia uma igualdade equilibrada entre os sexos e onde se tinha de saber viver em conformidade com a natureza para conseguir sobreviver nela. O mais infeliz de perceber ao visionarmos este filme é que nós já fomos assim, sem futilidades ou superficialidades, sem a ganância ávida de riqueza e bens materiais, sem uma vida que tudo se resume a uma simples palavra: Dinheiro.

Não vou negar que sou consumista, afinal faço parte da chamada "geração electrónica", onde estamos rodeados de conforto, tecnologia, ausência de valores dignos desse nome e de futilidade. Também me insiro nesse rol, assim como toda a gente que conheço, uns mais e outros menos e é aí que reside toda a diferença. Uma coisa é adaptarmos-nos à sociedade em que vivemos contemporaneamente, ou até gostar de alguns dos seus aspectos, outra coisa totalmente diferente é já ter a ausência de valores e a cabeça totalmente feita pelos media e estilo de vida que se mantêm hoje em dia. Cada vez mais as pessoas são cépticas, não acreditam em religiões, cultos, ou até correntes espirituais, vivemos numa época em que o culto do espírito ou até casos de paranormal apenas existem para serem feitos filmes ou programas de televisão de modo a entreter as massas, de modo a serem mais um motivo de conversa e chacota como todos os temas polémicos. Estamos numa sociedade que é "moda" ser "verde", somos todos muito ecologistas, vamos trabalhar para construir o que as gerações anteriores destruíram, ou então vamos ser todos vegetarianos para não fazer mal aos animais. Ideais muito nobres, porém aliado à mentalidade típica de séc.XXI pode surgir uma verdadeira mistura explosiva.

Muitos são extremamente ecologistas porém têm o seu grande carro à porta para ir para o trabalho todos os dias, onde comem o seu pequeno almoço e depois deitam o que resta pela janela fora, onde vão acampar e fazem fogueiras ou deitam beatas de cigarro acesas directamente para o campo aberto, onde sabem que as probabilidades de incêndio são altas. Dizem que têm muita pena dos animais e não os querem comer, quando muita gente só o faz porque tem um circulo de amigos que é vegetariano ou então porque querem manter a linha, só para parecer bem, pois é impensável ter uns quilos a mais. Claro que não! Isso faria de nós uns bichos feios vindos de outro planeta e deixaríamos de ser humanos por inteiro. Com esta divagação toda finalmente pergunto-me, para onde foram os valores da nossa sociedade "avançada"?

Onde estão os sentimentos, a conexão com o que realmente importa, o respeito? Acho que passaram a ser mitos. Os humanos extinguiram todo o pingo de decência e bondade que existia na terra, e não tarda nada a tentar achar outro planeta onde possa fazer o mesmo, daí o filme para mim ser dolorosamente realista. Houveram partes inclusive que chorei, não de tristeza mas também de revolta e ira de como o homem pode ser maldoso, mesquinho, destruidor e citando a Ella no seu blog, um total
monstro.

Tenho imensa pena de vivermos numa era em que já nada do que se vê no povo Na'vi é respeitado, que outrora
fez parte de nós, e agora vendo, parece algo tão longínquo que é mais viável associa-lo a um povo alienígena do que à nossa própria espécie.
Triste porém verídico.
Espero que tenhamos um futuro melhor, e que recuperamos os valores que outrora existiram mas que hoje só fazem parte de um filme de ficção científica...

Oyasumi!

3 comments:

  1. De facto só seria viável no nosso tempo mostrarem estes valores numa sociedade alienígena. Gostei muito de ver os azulinhos em 3D. Boa Semana **

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  2. É mesmo, devia haver excursões para lá!

    "Sr, Condutor, ponha o pé no acelerador. Se bater não faz mal, vamos todos para o hospital!" XD

    Mas falando a sério, era bom que se aprendesse algo com este tipo de filmes, só para termos a noção que somos mesmo umas bestas apesar de nos considerarmos civilizados.

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  3. Concordo plenamente com vcs amoras, o filme alem de lindo refere tudo isso, e chama atençao a essas coisas q tds no sunconsciente sabem, mas perdem a noçao ou fingem esquecer. <3

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